segunda-feira, maio 22, 2006

Não basta dar... é preciso querer receber...

Diálogo entre Catequistas:

c1: - Ah! Temos que ser ousados... Imaginar formas... Inventar caminhos de levar A Pessoa de Jesus....
c2: - Formas? Ó! Essa agora! ... Só há uma!
c1: - Qual?
c2 - Como no tempo do Pr. Fr. .... Quem não sabe as coisas, não vai à Primeira Comunhão nem Comunhão Solene!
c1 - Que coisas?
c2- Óh, as coisas que tem que se saber...
c1 - Que coisas?
c2 - Essas modernices não levam a lado nenhum...
c1 - Que lado?
c2 - ...
c1 - Que modernices?
c2 - Pronto, lá estais vós a querer ensinar as mais velhas...

Este diálogo contou-mo a N.... Viveu-o há uns dias atrás...

Imediatamente associei este 'conflito de gerações' em catequisar, a uma experiência que tive com um grupo do 2º ano, quando, muito calmamente, lhes dizia que Jesus também Sentia frio, fome, cansaço...

Só visto! Olhos esbugalhados olhavam para mim..

Como era possível que aquEle Jesus que Tem todo o Poder, que É O Maior, que Está tão acima de nós... também Tivesse frio, fome... e Se cansasse?

De facto, não é fácil, mesmo com 7 anos, imaginar Um Jesus que ainda pouco tempo antes era Todo-Poderoso, que Ralhava quando trovejava, que não Gostava dos meninos que fizessem asneiras... bom, não é nada fácil conceber que Alguém Seja assim até Junho e em Outubro Seja Amigo, Bom, que Goste de brincar, que até Era capaz de Gostar de guloseimas...

[A natureza humana de Jesus tão fortemente 'esquecida' e distante da Sua natureza divina, quando, afinal, ambas se complementam... ]

Recordo de depois de uma desmistificação dessa ‘imagem de Junho’, as perguntas não paravam de correr...

Afinal, Jesus não Era as fórmulas que tinham sido decoradas... embora seja importante as sabermos e compreendermos...

Jesus Era Algo mais...

E principiou o desejo... anseio... a vontade de O conhecer, de querer saber afinal como Ele Era, como Ele É.... o que Fez... o que Sentiu (sim, porque Ele foi / É um de nós).

Compreendo a C2 do diálogo acima... Por vezes, há uma certa ‘resistência à mudança’, ainda que involuntária... Há um temor excessivamente zeloso pelas ‘coisas do Alto’, um apego descomedido a Um Deus distante, que, afinal, Se Quis fazer tão próximo (Jo 14,9).. Há ainda uma certa dificuldade em pronunciar sincera e continuamente palavras certas como ‘Amor’ (Jo 13,34)e ‘Doação’ (Mt 28,20). ... Mas até que não deixa de ter razão de ser, em parte, dada a facilidade com que assistimos à banalização de temáticas tão sérias quanto relevantes...

Por outro lado, como compreendo a C1... esta ‘ousadia’ que mencionava à colega Catequista... este aprofundamento doutrinal que tem como suporte o desejo da descoberta... esta experiência de viver a fé num espírito de disponibilidade e entrega... esta prática contínua de sentir na pele a alegria de ser uma comunidade que se distingue pelo amor entre si, (cfr Actos dos Apóstolos)....

Em suma, o que é certo é que há toda uma assertividade a ser assimilada e cumprida...

Há-que conjugar essa assertividade com o realismo da vida dos catequizandos de hoje (que, com certeza, difere da realidade de vida dos catequizandos do tempo do Pr. Fr. !)....

Sim, porque hoje (e talvez já no tempo dos nossos pais, embora a vivência histórico-político-económica o condicionasse de forma diferente)... mas como dizia, hoje ‘ninguém’, nem mesmos os mais pequenos, ‘vão na cantiga’ e na ‘lengalenga decorada’... Hoje a sociedade propociona-nos uma ânsia de justificações deveras colossal... Hoje os papeis invertem-se e a conquista começa pelo conquistado... É este que exige...

Por tudo isto, é que talvez não seja suficiente ‘Dar Catequese’, e nem mesmo ‘Fazer Catequese’, mas levar o outro a ‘Querer receber Catequese’...

Por tudo isto, é que talvez mais do que ‘Dar a conhecer Jesus’, ou ‘Levar Jesus’, é pertinente ‘Provocar o querer Jesus’.

Aliás, ‘Dar’ começa a tornar-se algo banal... No Natal, o Pai-Natal as prendas... Na próxima semana, a mãe vai dar uns ténis novos... A professora a aula... O Totoloto milhões... Dar, dar, dar... Todos dão... E quase se perde o hábito de pedir... Bom, por isso é que há que ser diferente... Não dar assim, como quem oferece mais um jogo ou um passatempo! Mas antes levar a que peçam... Incitar uma carência! Provocar uma necessidade!

E como já tive oportunidade de exprimir num post anterior, a escolha de hoje é precisamente a mesma de há 2000 anos atrás...

Recordemos que há 2000 anos atrás, não foi com técnicas de persuasão ou argumentação que Jesus Se impôs...

Recordemos que há 2000 anos atrás não foi empanturrando palavras feitas e expressões modeladas que Jesus Se revelou...

Recordemos apenas que há 2000 anos atrás Ele Foi diferente... Cativou... Seduziu... Conquistou... Provocou... Inquietou... Suscitou o desejo de O ouvir... de O seguir... Arrisco dizer que Foi até Diferente no modo de amar...

Isto sim, diferencia! Isto sim, é convite!

Por tudo isto é que por vezes o desafio do Catequista (do Cristão!) é pois bem maior do que imaginamos... e do que tantas vezes estamos preparados... mas também por tudo isto é que confiamos que não estamos sós, e que O Espírito Santo Actua em cada um de nós...

1 Comments:

At 24 maio, 2006 15:20, Blogger CVJ said...

Estamos todos ainda mergulhados em imagens de Deus muito "limitadas", para não dizer outro palavrão. Como pode Deus sofrer frio? fome? calor? sede? Sim "isso" está ecrito, mas convencer-se que é verdade é outra história. Recorda-me algumas conversas com amigos muçulmanos no Chade em que terminávamos sempre em desacordo, porque nenhum deles aceita que Deus possa algum dia ter aceite viver a nossa condição humana e por isso mesmo as nossas limitações.
Há muitos cristão que pensam da mesma maneira. Deus só sofreu na cruz e em mais lado nem momento nenhum.
É pena.
Abraço
Leonel

 

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