segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Falando de (in)disciplina...

Esta manhã, a N., uma 'colega' destas andanças da Catequese, comentava que, desde que a Catequese recomeçou após a pausa natalícia, tem-se deparado com episódios esporádicos de um certo problema de autoridade diante do seu grupo, composto por 11 catequizandos (8 meninas e 3 meninos com cerca de 9, 10 anos).

A situação que, inicialmente fora assimilada como sendo resultado do período de férias passado, acabou por se tornar de tal forma complicada e intolerável, que no Sábado passado a N. gritou durante a sessão, e acabou a chorar diante do grupo...

Numa pesquisa rápida pela Net, encontrei um artigo de Álvaro Ginel, secção "?Y Cómo?", traduzido da revista 'Catequistas', n.º 149 (2003), p. 28-29, que faz uma abordagem interessante sobre a problemática da disciplina na Catequese (ou, neste caso, a falta dela).

Aqui fica...

Para muitos catequistas, hoje é um problema a disciplina durante a sessão de catequese. "Não estão quietos. Não há quem os aguente. Todo o tempo a falar. Não se concentram...". Temos que reconhecer que este aspecto se converte para bastantes catequistas num problema preocupante. Os catequistas sentem que não têm autoridade, ou que "não aguentam com o grupo". Como consequência, realizam pouco (ou quase nada) do que tinham preparado. Nalguns casos, existem catequistas que abandonam a catequese porque é "mais difícil do que imaginavam; não se fazem com o grupo". O abandono pode implicar uma experiência negativa de animação. Outros catequistas não se preocupam e a sessão de catequese converte-se num tempo de jogo, onde se pronunciam “palavras religiosas” sem ambiente apropriado para acolhê-las...

COMPREENDER A SITUAÇÃO
Temos de fazer um esforço por compreender a situação:
a)O horário da catequese. Geralmente não estão colocadas as sessões nos melhores momentos do dia. Pesa o cansaço da jornada escolar ou é difícil a concentração porque o sábado é “dia de descanso”; a catequese parece que estraga o descanso.

b)A situação familiar. Cada criança é uma história bela condicionada pela educação que recebe em casa e pelo carinho e atenção que lhe são prestados. Hoje temos dois extremos: a ausência de carinho e a super-protecção de carinho que convertem a criança numa "ditadora" que faz o que quer e não está habituada a por um limite aos seus caprichos.

c)Outros factores. Existem outros factores que influenciam na disciplina como sejam: os amigos, o local, o tempo para o jogo e a diversão, a disciplina vivida na família, o colégio...

O CATEQUISTA
Falar de disciplina é falar também do catequista educador. Não podemos deitar todas as bolas ao campo contrário e dizer que "são eles os que têm a culpa, os que são mal-educados..."

O catequista tem muito que ver nisto da disciplina. Se o grupo “percebe ou intui” que o animador tem falta de personalidade, que está pouco convencido do que diz, que está perdido, que não sabe sair-se bem das dificuldades normais... então o grupo (ou os cabecilhas do grupo) aproveita-se para fazê-lo saber e sentir.

E a maneira de dizer ao animador que "vêm nele pouca consistência, pouco formação, pouco profundidade" é comportando-se mal. Dito mais simples: existe indisciplina cuja raiz é o próprio animador. Quem sabe, comprometeu-se a uma coisa que o supera.

ALGUMAS PISTAS
 Existe indisciplina que vem do cansaço das crianças e adolescentes (que são quem mais problemas podem apresentar). Nestes casos tens que procurar alguns recursos para relaxar e serenar os nervos. Não pretendas o impossível. Porás as coisas pior e não conseguirás nada. Para aproveitar vinte minutos, talvez tenhas de dedicar 15 em relaxação, ou exercícios não relacionados directamente com o tema... Tu sabes o que pretendes. Não o fazes por fazer. Tu dás resposta há realidade do teu grupo, uma realidade muito concreta, permitindo que a serenidade chegue. e ao fazer isto, não te culpabilizes porque "perdes o tempo". Ficas alegre porque estás "a preparar a terra" para que acolha a Palavra do Evangelho...

 Existem indisciplinados que o são por circunstâncias familiares: falta de carinho, falta da presença do pai ou da mãe, excesso de mimos, uma permissividade absoluta, etc. Umas vezes estes membros do grupo querem fazer-se notar, ou que repares neles... É bom: tê-los perto, dar-lhes incumbências concretas para fazerem, responsabilizá-los por outros, falar muito com eles antes e depois da sessão, querer-lhes sem permissividade barata, não feri-los em publico (porque não trouxeram... porque se esqueceram... porque não fizeram...), tendo em conta que em muitos casos não estão apoiados pela família; vêm para "cumprir o expediente". Todos gostamos de ser felicitados pelo que fizemos bem feito. Felicita cada pessoa quando faz as coisas bem; fá-lo sobretudo com os mais difíceis... Que descubram que o catequista fixa-se no que fazem bem feito, não só nas suas "traquinices".

 Terás que pedir conselho e opinião de outros catequistas para confrontar o que fazes com a experiência de outros, sobretudo com aqueles que têm mais experiência. As situações de cada grupo são impossíveis de catalogar, Os grupos e as pessoas não funcionam como os computadores: à base de ordens e de apertar em botões. Os acontecimentos são parecidos, mas não são iguais, porque os protagonistas são diferentes, com uma história, uma educação e uma referência familiar diferentes... Um grito pode vir bem num determinado ambiente... e ser muito negativo noutro... Tudo o que é educação assemelha-se mais a uma obra de arte do que a uma máquina automatizada... Graças a Deus!

 É absolutamente importante que descubras se a indisciplina do grupo é devida aos indisciplinados ou é uma palavra que te estão a dizer a ti mesmo os membros do grupo. Uma palavra para que sejas mais humano, mais profundo, mais coerente, ou para que te prepares melhor as coisas... Ordinariamente onde o grupo intui que existe "um mestre", "um que sabe e entende" costuma portar-se bem. Um exemplo: põe a ensaiar uma canção a uma pessoa que domine mal a viola ou saiba a meias o canto. Verás que ali ninguém se entende. Depois, faz que ensaie o mesmo canto e com o mesmo grupo uma pessoa que cante bem ou que toque bem a viola. Tu mesmo verás a diferença e entenderás o que te quero dizer.

É CHAVE
 A competência e a coerência do catequista é a chave de sucesso para que no grupo haja disciplina.

FLASH
 Num clima de indisciplina é impossível fazer uma boa catequese;

 Na catequese, como na escola, os problemas de disciplina hoje são uma realidade que tem muitas causas.

 O catequista necessita de experiência para saber detectar as causas da disciplina no grupo e para acertar na maneira de abordar os membros mais difíceis.

 O grupo no seu conjunto possui um sentido especial para "intuir" os aspectos mais frágeis do animador e "aproveitar" essas fragilidades.

SUGESTÕES
 A tranquilidade do animador é muito importante nos momentos em que no grupo acontece algo de especial. Se o grupo percebe que “alguma coisa” desconcerta o animador, já sabe por onde entrar e fazer-lhe “mossa”.

 O diálogo é a melhor arma para consertar o que acontece no grupo. Há momentos em que o diálogo não bastará e o melhor será fazer gestos com muito poucas palavras.

 O paleio, as ameaças, os insultos, as palavras que atentam contra a dignidade da pessoa costumam produzir precisamente os efeitos contrários aos que eram pretendidos.

 É bom utilizar frases e palavras um pouco misteriosas, que deixam uma interrogação, que abrem a algo que não é imediatamente objectivável, que suscitam a pergunta: Que quererá dizer?

 O carinho verdadeiro ao grupo e a cada pessoa do grupo é o melhor remédio. Carinho não é deixar fazer o que cada um quer, mas sim, entender a vida do grupo de cada elemento do grupo e gostar verdadeiramente deles. O amor leva há entrega.

 Tão importante ou mais que os "nãos" são os "sins", as felicitações, as palavras pessoais "ao ouvido".

5 Comments:

At 14 fevereiro, 2006 09:24, Anonymous Anónimo said...

este e' um porblema frequente nao so' na catequese como na escola e mesmo em casa. as criancas e jovens de hoje j�' nao aprendem determinados valores infelizmente. fa�o votos de que a N. nao desanime.

 
At 15 fevereiro, 2006 09:31, Blogger Paulo said...

Interessante esta "tese". A ter em conta diga-se de passagem.

 
At 15 fevereiro, 2006 16:06, Blogger Henrique Santos said...

Belo tema. Acho todavia, que se deve procurar uma disciplina consentida, pelo exemplo, pela seriedade, pela solidariedade (importante) e sobretudo pela importância a conceder sempre igual a cada um dos formandos...
Obrigada pela visita,
Ricky

 
At 09 maio, 2011 15:10, Anonymous Anónimo said...

Parabéns! Gostei muito desta matéria. Estas situações vêm de encontro exatamente com o que está acontecendo com muitos catequistas. Vale inclusive rssaltar a importância da busca interior em reconhecer onde está o erro, buscar a causa e procurar da melhor maneira ajustar sua melhora!
Muito obrigada pelas dicas!
Deus abençõe.
Luci Chiquim

 
At 13 outubro, 2013 08:38, Blogger Unknown said...

Tenho um grave problema de indisciplina na minha turma do 6º ano. Comecei com eles no 3º ano ajudando a catequista deles e no 4º ano tornei me também catequista deles. Sei que a culpa da indisciplina deles grande parte é minha porque não conseguia ter mão e não estava muito confiante de mim porque eram as primeiras vezes que dava catequese, mas agora não sei como fazer, não sei como mantê-los calados, eu mando-os calar mas dali a 1 minuto já está tudo uma algazarra. Depois de 2 anos com eles já não tenho esperança que eles mudem (sim muita da culpa foi minha) mas que posso eu fazer agora? Ajudem-me, porque se isto continuar assim vou sair porque já não aguento mais. Digam-me o que posso fazer.
Obrigada

 

Enviar um comentário

<< Home

Number of online users in last 3 minutes
Free Hit Counter