sexta-feira, dezembro 30, 2005

"CATECHESI TRADENDAE"

A par da Bíblia Sagrada, do Catecismo da Igreja Católica, do Directório Geral da Catequese. de guias formativos dos cursos de catequistas (onde se inclui o excelente "Catequistas XXI"), julgo que na cabeceira de cada Catequista deveria estar providenciado quase que obrigatoriamente um texto que tem tanto de fundamental como de maravilhoso: a Exortação Apostólica «CATECHESI TRADENDAE», de João Paulo II.

Esta exortação (do latim exhortatióne - advertência, conselho, estímulo, incitamento), data de 16 de Outubro de 1979, por altura do segundo ano do pontificado de João Paulo II.

É de uma delícia indescritível a mensagem que João Paulo II nos propicia nesta revelação.

Por hoje, deixo alguns excertos deste maná que não me canso nunca de saborear...

1. A catequese foi sempre considerada pela Igreja como uma das suas tarefas primordiais, porque Cristo ressuscitado, antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos uma última ordem: fazer discípulos de todas as nações e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que lhes tinha mandado (1). Deste modo lhes confiava Cristo a missão e o poder de anunciar aos homens aquilo que eles próprios tinham ouvido do Verbo da Vida, visto com os seus olhos, contemplado e tocado com as suas mãos (2). Ao mesmo tempo, confiava-lhes ainda a missão e o poder de explicar com autoridade aquilo que Ele lhes tinha ensinado, as suas palavras e os seus actos, os seus sinais e os seus mandamentos. E dava-lhes o Espírito Santo, para realizar tal missão.

(1) Cf Mt 28, 19
(2) Cf 1Jo 1,1


6 – (...) A preocupação constante de todo o catequista, seja qual for o nível das suas responsabilidades na Igreja, deve ser a de fazer passar, através do seu ensino e do seu modo da comportar-se, a doutrina e a vida de Jesus Cristo. Assim, há-de procurar que a atenção e a adesão da inteligência e do coração daqueles que catequiza não se detenha em si mesmo, nas suas opiniões e atitudes pessoais; e sobretudo não há-de procurar inculcar as suas opiniões e opções pessoais, como se elas exprimissem a doutrina e as lições de vida de Jesus Cristo. Todos os catequistas deveriam poder aplicar a si próprios a misteriosa palavra de Jesus: “A minha doutrina não é minha mas d'Aquele que me enviou” (13).

(13) Jo 7,16


9. Ao fazer esta evocação, não esqueço que a Majestade de Cristo quando ensinava, a coerência e a força persuasiva únicas do seu ensino, não se conseguem explicar senão porque as suas palavras, parábolas e raciocínios nunca são separáveis da sua vida e do seu próprio ser. Neste sentido, toda a vida de Cristo foi um ensinar contínuo: os seus silêncios, os seus milagres, os seus gestos, a sua oração, o seu amor pelo homem, a sua predilecção pelos pequeninos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na cruz pela redenção do mundo e a sua ressurreição, são o actuar-se da sua palavra e o realizar-se da sua revelação. (...)


19. A especificidade da catequese, distinta do primeiro anúncio do Evangelho que suscita conversão, visa o duplo objectivo de fazer amadurecer a fé inicial e de educar o verdadeiro discípulo de Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e sistemático da Pessoa e da mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo (49). (…)

(49) Synodus Episcoporum, De catechesi hoc nostro tempere tradenda praesertirn pueris atque iuvenibus, Ad Populum Dei Nuntius, n. 1: loc. cit., pp. 3 ss.; cf. “L'Osservatore Romano” (30 de Outubro de 1977), p. 3.


20 – (...) Mais precisamente, a finalidade da catequese, no conjunto da evangelização, é a de construir a fase de ensino e de ajuda à maturação do cristão que, depois de ter aceitado pela fé a Pessoa de Jesus Cristo como único Senhor e após ter-Lhe dado uma adesão global, por uma sincera conversão do coração, se esforça por melhor conhecer o mesmo Jesus Cristo, ao qual se entregou: conhecer o seu «mistério», o Reino de Deus que Ele anunciou, as exigências e promessas contidas na sua mensagem evangélica e os caminhos que Ele traçou para todos aqueles que O querem seguir.
Se é verdade, portanto, que ser cristão significa dizer “sim” a Jesus Cristo, convém recordar que tal “sim” se situa a dois níveis: consiste, antes de mais, em abandonar-se à Palavra de Deus e apoiarse nela; mas comporta também, num segundo momento, o esforçar-se por conhecer cada vez melhor o sentido profundo dessa Palavra.


23 – (…) a catequese conserva sempre uma referência aos Sacramentos; toda a catequese leva necessariamente aos Sacramentos da fé. Por outro lado, a autêntica prática dos Sacramentos tem forçosamente um aspecto catequético. Por outras palavras, a vida sacramental empobrece-se e depressa se torna ritualismo oco, se não estiver fundado num conhecimento sério do que significam os Sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não for haurir vida na prática sacramental.


27 - A catequese sempre há-de haurir o seu conteúdo na fonte viva da Palavra de Deus, transmitida na Tradição e na Escritura. (…)


29 – (…) De tudo isto se deduz a importância duma catequese que inclua as exigências morais e pessoais requeridas pelo Evangelho, e as atitudes cristãs frente à vida e frente ao mundo, sejam elas heróicas ou as mais simples: nós costumamos chamar-lhes virtudes cristãs ou virtudes evangélicas. Daí também o cuidado a ter na catequese em não omitir, nem deixar de esclarecer como convém, num constante esforço de educação da fé, realidades como a acção do homem para a sua libertação integral (73), o empenho na busca de uma sociedade mais solidária e fraterna e o compromisso na luta pela justiça e pela construção da paz. (…)

(73) Cf. Paulo PP. VI, Exortação Apostólica Evangelli Nuntiandi, nn. 30-38: AAS 68 (1976), pp. 25-30.


32 - O grande movimento que por inspiração do Espírito de Jesus, de há alguns anos para cá, vem impelindo a Igreja Católica a procurar com outras Igrejas ou confissões cristãs a recomposição da perfeita unidade desejada pelo Senhor, leva-me a dizer uma palavra sobre o carácter ecuménico da catequese. Esse movimento assumiu todo o relevo no Concílio Vaticano II (82). A partir daí revestiu-se na Igreja de nova amplidão, concretizada numa série impressionante de factos e iniciativas que já todos conhecem. A catequese não pode ficar alheia a esta dimensão ecuménica. Todo e qualquer fiel, cada um segundo a sua capacidade e situação na Igreja, é chamado a participar no movimento para a unidade (83). A catequese terá, pois, uma dimensão ecuménica sempre que, sem deixar de ensinar que a plenitude das verdades reveladas e dos meios de salvação instituídos por Cristo se mantém na Igreja (84), fizer tal ensino com sincero respeito em palavras e obras, para com as comunidades eclesiais que não estão em perfeita comunhão com esta mesma Igreja.

(82) Cf. todo o Decreto sobre o Ecumenismo Unitatis Redintegratio: AAS 57 (1965). pp. 90-112.
(83) Cf. ibidem; n. 5: 1. c., p. 96; cf. também Concílio Ecuménico Vaticano II, Decreto sobre a Actividade Missionária da Igreja Ad Gentes, n. 15; AAS 58 (1966), pp. 963-965; Sagrada Congregação para o Clero, Directorium Catechisticum Generale, n. 27; AAS 64 (1972), p. 115.
(84) Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Decreto sobre o Ecumenismo Unitatis Redintegratio, nn. 3-4: AAS 57 (1965), pp. 92-96.


55 – (…) A pluralidade de métodos na catequese contemporânea pode ser sinal de vitalidade e de talento inventivo. Em qualquer hipótese, importa que o método escolhido se atenha acima de tudo a uma lei fundamental para toda a vida da Igreja: a lei da fidelidade a Deus e da fidelidade ao homem, numa única atitude de amor.


58 – (…) Ora sucede que há também uma pedagogia da fé; e nunca será demais tudo o que se disser sobre o que essa pedagogia pode contribuir para a catequese. É normal que se adaptem à educação da fé as técnicas aperfeiçoadas e comprovadas da educação em geral. No entanto, importa ter em conta em cada momento a originalidade própria da fé. Na pedagogia da fé, não se trata simplesmente de transmitir um saber humano, por mais elevado que se considere; trata-se de comunicar na sua integridade a Revelação de Deus. Ora ao longo de toda a história sagrada, sobretudo no Evangelho, o próprio Deus serviu-se de uma pedagogia que deve continuar a ser modelo para a pedagogia da fé. Nenhuma técnica será válida na catequese senão na medida em que for posta ao serviço da fé a transmitir e a educar; caso contrário, não terá valor.


60 – (…) Quando educamos crianças, adolescentes e jovens, não lhe demos da fé um conceito totalmente negativo – com um não-saber absoluto, uma espécie de cegueira, uni mundo de trevas; procuremos antes fazer-lhes ver que a atitude de procura humilde e corajosa do crente, longe de partir do nada, de simples ilusões, de opiniões falíveis, de incertezas, se funda na Palavra de Deus, que não se engana nem engana, e se constrói incessantemente sobre a rocha inabalável dessa Palavra. É a procura dos Magos no seguimento de uma estrela (106), procura a respeito da qual, retomando um pensamento de Santo Agostinho, escrevia Pascal de maneira
profundíssima: “Tu não me buscarias, se não me tivesses já encontrado” (107).

(106) Cf. Mt. 2,1 ss
(107) PASCAL-Blaise, Le mystère de Jésus: Pensées, n. 553.


62 - Agora, caríssimos Irmãos e Filhos, desejaria que as minhas palavras, escritas à maneira de grave e ardente exortação, ditada pelo meu ministério de Pastor da Igreja universal, inflamassem os vossos corações, como as Cartas de São Paulo inflamaram seus companheiros de Evangelho Tito e Timóteo; ou então, vos alentassem como Santo Agostinho, quando escreveu esse verdadeiro tratado em ponto pequeno, sobre a alegria de catequizar (112), dirigido ao Diácono Deogratias, que andava desalentado com a sua tarefa de catequista. Sim, desejaria semear abundantemente nos corações de tão numerosos e diversos responsáveis pelo ensino religioso e pela preparação para uma vida conforme ao Evangelho, a coragem, a esperança e o entusiasmo.

(112) De catechizandis rudibus: PL 40,310-347.


66 - Desejo agradecer-vos em nome de toda a Igreja, também a vós, catequistas paroquiais, leigos, homens, e mulheres em maior número ainda, a vós todos que pelo mundo inteiro vos dedicastes à educação religiosa de numerosas gerações. A vossa actividade, muitas vezes humilde e escondida, mas realizada com zelo inflamado e generoso, é uma forma eminente de apostolado leigo, particularmente importante naquelas partes onde, por diversas razões, as crianças e os jovens não recebem no lar formação religiosa conveniente. Quantos somos, realmente, aqueles que recebemos de pessoas como vós as primeiras noções de catecismo e a preparação para o sacramento da Penitência, para a primeira Comunhão, para a Confirmação! (…) vos encorajo a prosseguir na colaboração que prestais à vida da Igreja.


67 – (…) a paróquia, como se disse acima, continua a ser o lugar privilegiado da catequese. Precisa para isso de reencontrar a sua vocação neste aspecto, que é a de ser a casa de família, fraterna e acolhedora, onde os baptizados e confirmados tomam consciência de ser Povo de Deus e onde o pão da boa doutrina e o pão da Eucaristia lhes são repartidos com abundância, no quadro de um único acto de culto (117); é daí que são quotidianamente reenviados para a sua missão apostólica em todos os sectores da vida do mundo.

(117) Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, nn. 35,52: AAS 56 (1964), pp. 109, 114; cf. também Institutio Generalis Missalis Ronzani, promulgado por decreto da Sagrada Congregação dos Ritos, a 6 de Abril de 1969, n. 33 (…)


(Se alguém quiser a versão integral deste documento, basta enviar-me uma mensagem para catequiso.existo@mail.pt).

1 Comments:

At 03 janeiro, 2006 10:23, Anonymous Anónimo said...

Esta exorta��o apostolica do saudoso JP II � de facto um belo texto, ningu�m consegue ficar indiferente � aud�cia com que o Santo Padre diz 'VINDE TRABALHAR NA SEARA DO PAI'.
Obrigada pela partilha que fizestes de algumas partes deste documento e continua��o de bom apostolado

 

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