sexta-feira, março 24, 2006

Histórias de fósforos, pensos rápidos e 2 poços

Olhei para o lado – e lá estava ela, menina, 11, 12 anos, não mais...

Não era a primeira vez q via o seu rosto redondo, corado, mas ela desta vez sorria para mim... Sorri para ela...

Perguntou-me se queria comprar pensos rápidos...

`É só 1 Euro`...

Dei-lhe a moeda e adicionei a barra de chocolate Kinder que havia comprado nem faziam cinco minutos...

Aparente e momentaneamente, ficou feliz.

Começou a chover e ela desapareceu... melhor assim... não queria que ela percebesse que os meus olhos tinham ficado repentinamente húmidos (seria da chuva?!).

Ontem, a noite estava fria, mesmo fria...

Aconchegada no meu pijama de flanela (aquele aos quadradinhos), vi-me (involuntaria e novamente) rodeada por aquele sorriso...

Onde estaria aquela menina a dormir?

Teria cobertores?

Os seus pais, onde estariam?

Será que eles a haviam abandonado?

É possível que os pais abandonem os filhos?

Sim, é possível!

João e Maria, abandonados sozinhos na floresta. Os pais deixaram-nos lá para serem devorados pelas feras. Diz a história q fizeram isso porque já não tinham mais comida para eles mesmos.

Será que haviam pensos rápidos na cesta que o Capuchinho Vermelho levava para a avó?
Será que a mãe do Capuchinho queria que ela fosse devorada pelo lobo?
Bom, essa é a única explicação para o facto de uma mãe mandar uma menina sozinha atravessar uma floresta onde era certo estar o lobo à espera.

Num dos contos de Andersen, uma menina vendia fósforos de noite na rua (se fosse aqui estaria num semáforo ou na praça de alimentação de algum centro comercial), enquanto a neve caía. Mas ninguém comprava. Ninguém precisava de fósforos.
Porque é que uma menina estaria a vender fósforos numa noite fria? Não deveria estar em casa, com os pais?
Talvez não tivesse pais.

Fico a pensar nas razões que teriam levado Andersen a escolher caixas de fósforos como a coisa que a menina estava a vender, sem que ninguém comprasse. Acho que é porque a caixa de fósforos simboliza calor. Dentro de uma caixa de fósforos estão, sob a forma de sonhos, 1 fogão aceso, 1 panela de sopa, 1 quarto aquecido...
Ao pedir que lhe comprassem fósforos numa noite fria, a menina pedia que lhe dessem 1 lar aquecido. Diz a história que de manhã a menina estava morta na neve, com a caixa de fósforos na mão.
Fria. Não encontrou um lar.

Um lar por exemplo como o da C., do grupo do 6º ano. A mãe da C. ainda ontem me ligou, preocupada porque a C. tem faltado à Catequese e às Aulas... ora partiu um braço, ora andou de canadianas mais de uma semana, ora acabou por apanhar uns vírus estranhos que a impedem de se levantar da cama... E o pai e a mãe da C. têm feito de tudo para que a C. recupere o mais rápido possível...

A mesma sorte não teve a Gata Borralheira, aquela da história, que depois acaba por ser princesa. O seu lar estava longe da madrasta e das irmãs: como uma gata, o borralho do fogão era o único lugar onde encontrava calor.

Mas como já disse, calor era coisa que ontem não estava...

`Dá-me uma moeda...`

O menino (sim, estava sujo, quase descalço e muito ranhoso, mas era um menino!) estava do lado de fora. O rosto encostado na porta, o braço esticado para dentro do espaço proibido pelo olhar permanente do segurança.

Tirei uma moeda da carteira e dirigi-me à máquina de bolos. Seleccionei um pacote de bolachas baunilha e dei-o.

Mas esse gesto não me tranquilizou. Quis saber um pouco mais sobre o menino.

Encostei-me também ao vidro da porta e perguntei: `Queres ajuda para abrir o pacote?`

Num ápice os seus dentes haviam respondido à minha pergunta...

Não, não precisava de ajuda...

`Como te chamas?`... `Samuel...`... `Tens um nome bem bonito, sabes?`...

Levantei a mão e afaguei-lhe os cabelos abundantemente sujos... O seu rosto corou...

Comeu a primeira bolacha... Perguntei-lhe porque não comia as outras... se não gostava.... disse-me q eram para a irmã... que andava a vender pensos rápidos...

Pensei na história da menina q vendia fósforos... há diferença entre vender fósforos e vender pensos?

Ainda ñ sei a resposta...

Só sei q por vezes achamos ter chegado ao fundo do poço (esse onde o lobo foi beber cheio de sede depois de ter comido o Capuchinho Vermelho e a avozinha, lembram-se?)...

Ou então, o poço de Samaria, onde Jesus Travou aquele diálogo maravilhoso com a mulher Samaritana, revelando-Se pela primeira vez como O Messias... (Jo 4)

A preferência do poço é nossa...

OU tudo parece ter chegado ao fim, tudo parece não ter mais sentido.... Um fundo onde reina a tristeza, a falta de força, a falta de esperança...
Bolas!...
A esperança daquelas crianças residia nuns simples pensos rápidos...

OU nos ‘sentamos’ calmamente com Jesus, na borda da Fonte, da Fonte de Água Viva... ao meio-dia (Jo 4,6b).... (Um aparte: ninguém vai buscar água ao meio-dia, no auge do calor... Um encontro intencional?!)
E deixamos que Ele nos diga que Tem Sede... (Jo 4,7b)
E deixamo-nos contagiar pelo Seu ‘atrevimento’ ... (Conversa com uma ‘Mulher’, e ainda por cima ‘Samaritana’?)...
E acabamos por ‘deslizar’ :-) e confiamos-Lhe o nosso comodismo (‘Dá-me dessa água, para eu não ter mais que a tirar do poço’ - Jo 4,15)...
E, depois de experimentado o prazer de saciar a sede directamente dEle, aí, sim, peguemos na nossa bilha de barro, e partamos apressadamente ao encontro dos outros, exteriorizando a alegria e o entusiasmo de O Conhecemos! (Jo 4,28-29)...

... É Quaresma... Mas não deixa de ser o momento oportuno de fazer Ressurreição...

-> Abrindo a n/ caixa de fósforos? ;-)

quinta-feira, março 23, 2006

A minha lista de 'NUNCA MAIS'

... Uma sugestão para meditação Quaresmal...



- Nunca mais direi “não posso”, pois “tudo posso naquEle que me fortalece” (Fil 4:13).

- Nunca mais direi que “não tenho”, pois “O Meu Deus, segundo a Sua riqueza em glória, há-de suprir em Cristo Jesus, cada uma das minhas necessidades” (Fil 4:19).

- Nunca mais direi que “tenho medo”, porque "Deus não nos tem dado um espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação” (II Tim 1:17).

- Nunca mais direi que “tenho dúvidas ou falta de fé”, porque eu tenho “a medida da fé que Deus repartiu a cada um “ (Rom 12:3).

- Nunca mais direi que "sou fraco", porque “O Senhor É a fortaleza da minha vida” (Sal 27:1).

- Nunca mais "temerei a Satanás", porque “maior É aquEle que Está em mim do que aquele que está no mundo” (I João 4:4).

- Nunca mais direi que "estou derrotado", porque Deus “em Cristo sempre me conduz em triunfo” (II Cor 2:14).

- Nunca mais direi que “não tenho sabedoria”, pois “Cristo Jesus ... tornou-Se da parte de Deus sabedoria” (I Cor 1:30).

- Nunca mais direi que "estou doente", pois “pelas Suas pisaduras fui sarado” (Is 53:5) e Jesus “mesmo tomou as minhas enfermidades e carregou com as minhas doenças” (Mat 8:17).

- Nunca mais direi que “estou preocupado e frustado", pois estou “lançando sobre Ele toda a minha ansiedade porque Ele tem cuidado de mim” (I Pe 5:7).

- Nunca mais direi que “estou preso” pois, “onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade” (II Co 3:17).

- Nunca mais direi que “estou condenado”, pois “já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rom 8:1).

(Autor Desconhecido)

segunda-feira, março 20, 2006

FLASHES do fds _ 5 - A dificuldade

Festa da Palavra: 12 de Março de 2006
Pároco: por motivos de agenda, ausente
Celebração: Pr. F.

Festa do Pai-Nosso: 23 de Abril de 2006 (?)
Caso a data se mantenha: pároco, por motivos de compromissos pastorais, ausente
Caso a data seja alterada: marta, por motivos de trabalho, ausente

Resumindo: caso a data se mantenha, já está bloqueada no meu calendário laboral desde o início do Ano Catequético... Por outro lado, caso se prossiga com a celebração neste dia, o pároco (diga-se, sem qualquer culpa, uma vez que esta coincidência recente de marcações não é da sua responsabilidade) vê-se privado de estar presente em mais uma celebração Catequética... Aliada a esta problemática-base, está a re-marcação em si: o primeiro fds de cada mês na paróquia é do CNE, o segundo da Catequese, o terceiro do Grupo Coral... Além do pároco ter ainda a seu cargo outra paróquia e respectivos compromissos...

Da minha parte, já manifestei total disponibilidade para colaborar na preparação da celebração, mesmo com alteração de data e com a minha ausência...

Dissipada (com total honestidade e seriedade) qualquer harmonia de datas para os próximos meses, o que é certo é que estamos sem data para a Celebração... e perante uma questão de incompatibilidade de agendas...

É pena...

FLASHES do fds _ 4 - A dúvida

... da minha oração pessoal de sábado à noite:

"Deixa que os mortos que enterrem os seus mortos"
(Mt 8,22b)

FLASHES do fds _ 3 - O assunto

Sábado, 18 de Março de 2006

Grupo do 6º ano

(na sessão falou-se de “Amar é Dar-se” ... “Sacramentos”... Palavra puxa palavra, e de Amor e Sacramentos chegou a prosa ao Matrimónio, que é aquele que ultimamente tem suscitado maior interesse):

Por um lado:

R.: Catequista: não faz pouco sentido os Padres não serem casados e poderem casar?

Por outro (depois de uma breve explicação de que os ministros do Matrimónio são os próprios noivos):

C.: Faz sentido os padres não serem casados... Assim podem-se dedicar mais e melhor às Igreja e às pessoas...

FLASHES do fds _ 2 - A piada

Sábado, 18 de Março de 2006

Grupo do 1º ano

marta (falando de Quaresma, ao de leve, falando muito devagar, e contando pelos dedos): Na sexta-feira, Jesus Morreu... Passou-se Sexta... Sábado... e no Domingo... (suspense!)

D. (interrompendo o silêncio, abrindo os braços, e fazendo uma expressão quase do tipo "Daaaahhh"): No Domingo, Foi à Missa!

FLASHES do fds_ 1 - A boa acção

Sábado, 18 de Março de 2006

Grupo do 1º ano

marta (+/- isto): Nós distinguimo-nos como amigos de Jesus porque fazemos o bem. Os amigos de Jesus são bons...

R.: Sabes que lá na escola um menino empurrou-me. Fui contar à empregada e ela disse para eu o empurrar também, mas eu disse-lhe que não o fazia, porque na Catequese aprendemos que não devemos fazer mal aos outros, mesmo que eles nos façam a nós...

sexta-feira, março 17, 2006

A camisola cor-de-rosa

A D.G. é mãe do R., um dos meus melhores amigos... É uma mãe digamos, 'diferente'... Felizmente, conheço poucas assim... O 'seu menino' partiu "(...)faz hoje 1 ano, 9 meses e 6 dias...", como fez questão de me relembrar há minutos atrás.

Tinha acabado de chegar da Via-Sacra que fazem lá na paróquia nas sextas-feiras da Quaresma quando me ligou... Que se sentiu impulsionada a ir, apesar de (ainda) não andar muito assídua nestas coisas da Igreja...

Conversa puxa conversa, ora "é pena um tempo destes para o fim-de-semana", ora "como o tempo passa, já estamos a meio do mês"... e lá fomos alimentando por largos minutos os laços na amizade que nos unem já há 8 anos (sim, hoje acabei por «investir» mais uma aula do Teológico-Pastoral!).

Inevitavelmente, chegamos ao assunto do momento: a D.G. faz anos amanhã (creio que 49)!

Como lhe quero muito oferecer de prenda uma camisola bem bonita que vi esta manhã na A*** (ainda estão com saldos), aproveitei para lhe perguntar se preferia cinzenta ou bege (isto para variar um pouco das dezenas de camisolas pretas que lá tem no armário).

Perguntou-me se não tinha em rosa, "aquele rosa clarinho, para ficar bem com o alfinete que comprou na M***".

Sempre respeitei o seu luto... Desde que o R. morreu (tinha 27 anos quando um *$#§&! acidente o levou para longe de nós), nunca vi a D.G. usar outra cor que não o preto, o branco e, raramente, um cinzento carregado de angústia e tristeza pela dor de perder um filho... Eu lá me ía lembrar do rosa... Mas disse-lhe que sim...

Bom, se não for aquele modelo, hei-de encontrar uma outra camisola... contando que seja rosa!

E hoje, mais tarde, na minha oração, agradecerei a Deus o dom da vida da D.G., a sua força, a sua coragem, mas, acima de tudo, o convite espiritual para celebrar este período de preparação para a Páscoa com mais deleite, mais sentir e mais beleza que se manifestam (no objecto duma camisola rosa) em actos de vida nova!... Hoje, mais tarde, na minha oração, rogarei para que o 'rosa' se estenda também a outros passos desta caminhada da D.G.!

Falar da Quaresma aos pequeninos

Meio por acaso (vai daí talvez não), acabei por acertar ideias quanto à dificuldade com que me tenho deparado em falar de ‘Quaresma’ aos meus cristãos de 6 anitos...



Preparação para a Páscoa no 1º catecismo

Olhando o exemplo das catequeses do primeiro volume, encontramos os traços do tempo de preparação para a Páscoa desde a catequese 11 até à 16.

“Deus dá-nos a vida” é o tema da catequese 11 e “Deus faz tudo por nós” da catequese 12. O catecismo começa por olhar para a criação como Dom de Deus e o homem como centro da Criação. Tudo o que vive e respira, tudo o que tem vida neste mundo, foi criado para servir o homem. Ele fez tudo para nos servir. Na catequese 13, “Deus ajuda-nos a crescer”, o catequista ajuda a criança a compreender a sua vida e a presença de Deus. Deus ajuda todos a crescer.

Olhar a vida e a criação só pode levar o homem à adoração. Por isso, a catequese 14 olha para o louvor de Jesus a Seu pai. O louvor e a oração brotam do coração admirado. Admirado pela obra criada, admirado pela beleza da vida.

Mas a catequese e a sua coerência sequencial não permanece na criação e na vida criada. Ela avança para a vida que Jesus veio trazer ao mundo, para falar da Páscoa. Por isso a catequese 15, “A semente floriu” fala do mistério da morte e da vida, da morte e ressurreição de Jesus. Dando o exemplo da semente, de Jo 12, 24, “Se o grão de trigo, caindo à terra, não morrer, fica só ele: mas se morrer dá muito fruto”, parte-se da morte de Jesus que dá a vida aos que nele acreditam.

Partindo da vida do quotidiano, de uma semente, chega-se assim à Páscoa de Jesus, à vida que Ele nos veio trazer. A partir da contemplação das coisas criadas, chega-se à Nova Criação que Jesus veio realizar através da sua morte.

Chega-se à “grande festa – aleluia”, na catequese 16, a última antes da Páscoa. Nela se realiza uma celebração com as crianças. Agora não se fala só sobre a Páscoa, mas celebra-se o que se tem vindo a preparar. É necessário que não falte esta pequena celebração pois a catequese não é apenas um ensino da fé.

A celebração ajuda a compreender a fé com o coração e a leva ao encontro com a Ressurreição de Jesus.


fonte: Pe Edgar Clara, em Departamento de Catequese do Patriarcado de Lisboa

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